A Ford está tentando virar a página de um histórico incômodo: a liderança entre as montadoras que mais fazem recalls nos Estados Unidos.
A fabricante americana, que vem acumulando desempenho abaixo da média em estudos de confiabilidade como o da J.D. Power há pelo menos uma década, agora aposta em uma estratégia radical: veículos que se testam sozinhos com ajuda de inteligência artificial.
Segundo uma nova patente registrada pela marca, batizada de “Controle Automatizado de Veículo Durante Montagem Final e Expedição”, os carros poderão rodar sozinhos dentro da fábrica em um circuito de testes, avaliando-se por conta própria antes de serem enviados aos concessionários.
A ideia é identificar falhas, barulhos e anomalias antes que os veículos sequer saiam do pátio.
A tecnologia prevê o uso de sensores capazes de captar ruídos como rangidos ou vibrações fora do padrão, enquanto algoritmos comparam essas informações com bancos de dados de veículos já aprovados.
Se for detectado algo fora do esperado, o próprio carro será capaz de voltar ao ponto de correção sem intervenção humana.
Além de barulhos e vibrações, o sistema poderá analisar a resposta do conjunto de suspensão, o funcionamento dos freios, do sistema de áudio, faróis e até os sensores de condução semiautônoma.
Tudo isso durante o trajeto que o veículo já faria naturalmente entre a linha de montagem e o pátio logístico — ou seja, sem aumentar o tempo total de produção.
Na prática, a Ford pretende transformar um processo logístico passivo em uma etapa ativa de controle de qualidade, usando a inteligência artificial como aliada para prevenir problemas que antes só eram detectados depois que o cliente já estava com o carro na garagem — ou na oficina.
A iniciativa, que está em fase de patenteamento, faz parte de um esforço mais amplo liderado pelo CEO Jim Farley.
Desde 2022, Farley vem admitindo publicamente que a qualidade é a prioridade número um da empresa, após anos enfrentando críticas, recalls e prejuízos relacionados à insatisfação dos consumidores com falhas em seus veículos.
Com carros cada vez mais complexos e recheados de tecnologia, a aposta da Ford é simples: se a falha é difícil de prever com o olhar humano, que seja detectada por uma máquina.
Resta saber se o investimento em inteligência artificial será suficiente para reverter uma década de problemas crônicos — ou se será apenas mais uma tentativa de apagar incêndios sem resolver a raiz do problema.
Fonte: Notícias Automotivas